Na menopausa, com a diminuição da produção estrogénica ocorrem alterações na mucosa vulvo-vaginal, que conduzem a uma menor humidade, sensação de prurido/ardor, fragilidade e dor durante a relação sexual.
Estas mudanças também alteram a composição do ambiente vaginal, podendo dar origem a sintomas e infeções, com elevado impacto na qualidade de vida da mulher.
A propósito do Dia Mundial da Menopausa, que se celebra no sábado, dia 18 de outubro, o Lifestyle ao Minuto esteve à conversa com Mónica Gomes Ferreira, médica ginecologista, que falou sobre um dos sintomas associados à menopausa menos falado: a secura vaginal.
A secura vaginal na menopausa ainda é um assunto tabu?
Sim, é a realidade do nosso dia a dia. Ainda é uma questão que as mulheres têm dificuldade para falar, porque acham que é normal. Inclusive, alguns colegas [médicos] dizem: ‘isso é o normal, todas as mulheres têm isso’ portanto, acham que realmente é o normal, apesar de não ser.
Para além disso, as mulheres sentem vergonha de falar sobre o assunto, porque pensam que é demasiado íntimo, mas não têm de ter vergonha nenhuma, porque é uma questão médica e nós temos soluções para tratá-la. Acho que, como médicos, temos de incentivar essa comunicação.
Às vezes as mulheres, nem vêm à consulta pela secura vaginal, mas pelas alterações nas relações sexuaisPorquê que este é um dos efeitos da menopausa? Como é que surge?
Na menopausa temos uma queda natural dos níveis de estrogénio, que é a principal hormona que mantém a mucosa vaginal hidratada e elástica. Quando a mulher tem menos estrogénio, os tecidos começam a ficar mais finos, mais secos e menos protegidos. Devido a estas alterações começa a ter sintomas como desconforto e, inclusive, dores nas relações. Às vezes, nem vêm à consulta pela secura, mas pelas alterações nas relações sexuais.
De que forma se pode prevenir ou tratar este sintoma?
Existem vários tratamentos. O mais básico seria, por exemplo, hidratantes e lubrificantes vaginais. Dentro destes hidratantes vaginais existem uns específicos. Os que têm ácido hialurónico são um bocadinho mais eficazes. É importante notar que o ácido hialurónico tem que estar em lipossomas, porque senão não se vai reabsorver.
Num segundo patamar surgem os tratamentos hidratantes, seja em formato gel ou até comprimidos com hormonas.
E existem outros ainda mais avançados como a radiaofrequência vaginal. Neste caso, o que estamos a fazer é a regenerar esse tecido. É um tratamento mais inovador que estimula a regeneração da própria mulher a nível vaginal através de um mecanismo de aquecimento e inflamação solar, que começa a estimular essa produção através de elastina, colagénio, fibroblasto, vascularização, etc.
Acho que tem de se começar sobretudo por alterar a cultura da mulher portuguesa. Digo muito às minhas pacientes: ‘não sofra em silêncio, não tenha vergonha’. É necessário criar uma ligação com médicoPensa que já se faz uma abordagem diferente à menopausa ou ainda há passos importantes a dar?
Acho que tem de se começar sobretudo por alterar a cultura da mulher portuguesa. Digo muito às minhas pacientes: ‘não sofra em silêncio, não tenha vergonha’. É necessário criar uma ligação com médico. Há muitos médicos que não dão essa abertura às pacientes, não lhes perguntam sobre estes assuntos, porque não acham que isto é importante.
À medida que eu vou falando cada vez mais, as mulheres vão procurando ajuda e percebendo que é um autocuidado, não é uma vergonha. Estes tabus quebram-se com informação, conversas entre mulheres, entre médico e paciente e na procura de ajuda com outros profissionais, porque às vezes também interfere com a parte psicológica.
Já tive muitas pacientes que vêm à consulta e dizem ‘vou pedir ao meu marido para entrar, porque ele não acredita’. Às vezes, os homens acham que são desculpas das mulheres Este é um assunto que depois vai além da mulher e que pode afetar o relacionamento com o companheiro. Considera que os homens são compreensivos?
Temos todo tipo de pessoas. Já tive muitas pacientes que vêm à consulta e dizem ‘vou pedir ao meu marido para entrar, porque ele não acredita’. Às vezes, os homens acham que são desculpas das mulheres. Eu incentivo sempre a trazer o marido ou parceiro. Eu ajudo, falo também com eles, explico a situação a nível fisiológico.
Depois tenho alguns que, aparentemente aqui na consulta parecem muito compreensivos, depois não sabemos como é que é em casa. Eles acabam por ter de ouvir uma versão mais científica e mais médica para compreenderem melhor o que está a acontecer.
Agora estamos a falar na menopausa, mas isto não acontece só na menopausa. Também acontece no período de pós parto imediato, porque existe esta diminuição das hormonas a nível vaginal. Existe também em mulheres pós oncológicas e em mulheres que tomam a pílula. Também pode acontecer simplesmente pelo stress a que estamos sujeitas e mesmo devido produtos de higiene íntima.
Quando não tratada, a vagina vai ficar muito fininha, vai ficar atrófita, é aquilo que nós chamamos atrofia vaginalQuando a secura vaginal não é tratada, o que pode causar?
Quando não tratada, a vagina vai ficar muito fininha, vai ficar atrófita, é aquilo que nós chamamos atrofia vaginal. As mulheres começam a ter cada vez mais sintomas, não é simplesmente um desconforto ou uma dor com a relação sexual. Começam a ter comichões, ardor, fissuras, feridas a nível vaginal. Há algumas que têm infeções vaginais recorrentes e infeções urinárias.
Que outros sintomas, além da secura vaginal e associados à menopausa, considera que as mulheres deveriam ter atenção?
Há outras alterações físicas e a nível psicológico. Cada vez é mais falado o ‘brainstorm’, esta névoa mental que as mulheres têm, a dificuldade para se concentrarem no trabalho, o cansaço – que pode estar associado às insónias, mas outras vezes não. Depois os afrontamentos e outro que tenho falado cada vez mais que são as dores nas articulações.
A mensagem que podemos reter, então, é que a menopausa, apesar de causar muitos efeitos, não tem de ser o fim do mundo para uma mulher. Pode ser um período de transição muito mais leve, se devidamente acompanhada.
Isso mesmo. Eu recomendo às minhas pacientes, já quando começam ali a menopausa em teoria – o período é entre 45 e 55 anos – mas, quando começam a partir dos 40 e poucos a ter este tipo de alterações de forma subtil, a procurar um ginecologista e a referir essas alterações.
LEAD: A propósito do Dia Mundial da Menopausa, que se assinala amanhã, 18 de outubro, entrevistámos Mónica Gomes Ferreira, médica ginecologista, que nos falou sobre um dos sintomas ainda pouco falados: a secura vaginal.
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